quinta-feira, 17 de março de 2011

A mulher que assusta os homens.


Eles namoravam na casa do cara.

Assim que terminaram, ela se levantou rápido, olhou o relógio, checou mensagens do celular, sorriu e começou a se vestir. Ele ainda arfava, nem tinha tirado a camisinha, ficou olhando surpreso e perguntou:

‘Pô, você já vai embora?’

‘Tenho que ir. Acordo cedo amanhã".
Ele ficou mudo enquanto ela calçava as botas. O que eu fiz de errado? Foi ruim? Não, ela gozou duas vezes, forte. Mas ela nem beijou depois. Ela nem olhou com aquele ar apaixonado que toda mulher faz depois de gozar.

Tudo bem, era a primeira vez. Conheceram-se o quê, há uma semana, naquele restaurante? É. Onde rolou a troca de olhares. Onde rolou aquela conversa tola, enquanto aguardavam os carros. Onde ela deu o telefone do escritório, quando ele chegou perto, perguntou seu nome, o que fazia, elogiou sua roupa, disse na cara-dura que queria vê-la de novo, e ela ditou o número de seu telefone sem hesitar, e ele teve de decorar, ela disse que era arquiteta e zarpou, ele teve que pedir a caneta a um manobrista para anotá-lo na mão, e quando chegou em casa teve de se esforçar para decifrar aqueles números confusos em sua pele suada, para transpô-los para uma agenda em que anotou ‘garota do restaurante’, já que se esquecera do seu nome e teve de enrolar a secretária do tal telefone três dias depois — porque ele sempre ligava três dias depois —, porque se esquecera do nome da arquiteta que trabalhava lá, descreveu à secretária impaciente, até milagrosamente transferirem a ligação, e, sim, ela o atendeu, oi, sou eu, o restaurante, claro, ela se lembrou, conversaram alguns assuntos, marcaram um cinema, porque descobriram uma afinidade, filmes brasileiros, e tinha um bom em cartaz, em que foram dois dias depois, e mais um jantar.

Beijaram-se enquanto esperaram os carros, um beijo de recém-conhecidos, daqueles que ele investe, ela recua, ele insiste, ela cede, daqueles que apenas os lábios se encostam, as línguas timidamente se procuram, mas que depois se transformam e, apesar de dois desconhecidos, beijam-se intensamente, já as mãos dela em seus cabelos, já ele puxando o corpo dela contra o seu, pressionando-o, já seu pau endurecendo, com veículos de portas abertas e manobristas aguardando, até ela perguntar:

‘Onde você mora?’.

Transaram, terminaram, e ela se foi. Não foi daquelas que quiseram dormir. Nem daquelas que enrolaram para partir. Nem daquelas que perguntaram se ele ligaria. Nem fez questão de conhecer sua casa. Nem bebida, nem música. Foram pra cama assim que chegaram. E ela se foi enquanto ele ainda arfava.

Ele ligou dois dias depois, mas ela não o atendeu.

Nem quatro dias depois.

Nem quando mandou flores.

Nem quando mandou convites para a pré-estréia de outro filme brasileiro.

Ela é daquelas que assombram os homens.

Só quis naquela noite.

E por isso ele amargou uma paixão áspera.

Por Marcelo Rubens Paiva
Ps: A mulher que toda mulher gostaria de ser.

Amor não se pede.


Por Tati Bernardi
Se implorar resolvesse, não me importaria. De joelhos, no milho, em espinhos, agachada, com o cofrinho aparecendo. Uma loucura qualquer, se ajudasse, eu faria com o maior prazer. Do ridículo ao medo: pularia pelada de bungee jump. Chorar, se desse resultado, eu acabaria com a seca de qualquer Estado, de qualquer espírito.
Mas amor não se pede, imagine só. Ei, seu tonto, será que você não pode me olhar com olhos de devoção porque eu estou aqui quase esmagada com sua presença? Não, não dá pra dizer isso. Ei, seu velho, será que você pode me abraçar como se estivéssemos caindo de uma ponte porque eu estou aqui sem chão com sua presença? Não, você não pode dizer isso. Ei, monstro do lixo, será que você pode me beijar como um beijo de final de filme porque eu estou aqui sem saliva, sem ar, sem vida com a sua presença? Definitivamente, não, melhor não. Amor não se pede, é uma pena.
É uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade e levar uma rasteira. É uma pena ter o coração inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha. Um semblante altista de quem constrói sozinho sonhos. Mas você não pode, não, eu sei que dá vontade, mas não dá pra ligar pro desgraçado e dizer: ei, tô sofrendo aqui, vamos parar com essa estupidez de não me amar e vir logo resolver meu problema? Mas amor, minha querida, não se pede, dá raiva, eu sei.
Raiva dele ter tirado o gosto do mousse de chocolate que você amava tanto. Raiva dele fazer você comer cinco mousses de chocolate seguidos pra ver se, em algum momento, o gosto volta. Raiva dele ter tirado as cores bonitas do mundo, a felicidade imensa em ver crianças sorrindo, a graça na bobeira de um cachorro querendo brincar. Ele roubou sua leveza mas, por alguma razão, você está vazia. Mas não dá, nem de brincadeira, pra você ligar pro cara e dizer: ei, a vida é curta pra sofrer, volta, volta, volta. Porque amor, meu amor, não se pede, é triste, eu sei bem.
É triste ver o Sol e não vê-lo se irritar porque seus olhos são claros demais, são tristes as manhãs que prometem mais um dia sem ele, são tristes as noites que cumprem a promessa. É triste respirar sem sentir aquele cheiro que invade e você não olha de lado, aquele cheiro que acalma a busca. Aquele cheiro que dá vontade de transar pro resto da vida.
É triste amar tanto e tanto amor não ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguém feliz. Tanto amor querendo escrever uma história, mas só escrevendo este texto amargurado. É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra comprar, substituir, esquecer, implorar. É triste lembrar como eu ria com ele. Mas amor, você sabe, amor não se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa? Ele sabe, ele sabe.

- Só sei que nós nos amamos muito…
- Porque você está usando o verbo no presente? Você ainda me ama?
- Não, eu falei no passado!
- Curioso né? É a mesma conjugação.
- Que língua doida! Quer dizer que NÓS estamos condenados a amar para sempre?
- E não é o que acontece? Digo, nosso amor nunca acaba, o que acaba são as relações…
- Pensar assim me assusta.
- Por que? Você acha isso ruim?
- É que nessas coisas de amor eu sempre dôo demais…
- Você usou o verbo ‘doer’ ou ‘doar’?
[Pausa]
- Pois é, também dá no mesmo…

Gian Fabra.

Maysando


“Eu odeio pessoas que entram num bar e não bebem. Eu odeio testemunhas. Um bar é um templo: entrou, tem que beber!

Desistir?


“Desistir? Eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério. É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mas estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.”

Cora Coralina.

Do amor.


Não falo do amor romântico, aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento, relações de dependência e submissão, paixões tristes. Algumas pessoas confundem isso com amor. Chamam de amor esse querer escravo, e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida, explicada, entendida, julgada. Pensam que o amor já está pronto, formatado, inteiro, antes de ser experimentado. Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor se manifesta. A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado. O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita. O amor é um móbile. Como fotografá-lo? Como percebê-lo? Como se deixar sê-lo? E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta? O amor é desconhecido. Mesmo depois de uma vida inteira de amores, o amor será sempre o desconhecido, a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão. A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação. O amor quer ser interferido, quer ser violado, quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência. A morte do amor é quando, diante do seu labirinto, decidimos caminhar pela estrada reta. Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim. Não, não podemos subestimar o amor. Não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico. Não é meu coração que sente o amor. É a minha alma que o saboreia. Não é no meu sangue que ele ferve. O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito. Sua força se mistura com a minha e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu como se fossem novas estrelas recém-nascidas. O amor brilha. Como uma aurora colorida e misteriosa, como um crepúsculo inundado de beleza e despedida, o amor grita seu silêncio e nos dá sua música. Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor, se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço. E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo, me aventurando ao seu encontro. A vida só existe quando o amor a navega. Morrer de amor é a substância de que a vida é feita, ou melhor, só se vive no amor. E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.

Extraído do CD "Eu falso da minha vida o que eu quiser", Paulinho Moska.

terça-feira, 15 de março de 2011

A BUNDA DURA.


Tenho horror a mulher perfeitinha. Sabe aquele tipo que faz escova toda manhã, tá sempre na moda e é tão sorridente que parece garota-propaganda de processo de clareamento dentário? E, só pra piorar, tem a bunda dura! Pois então, mulheres assim são um porre.
Pior: são brochantes. Sou louco?
Então tá, mas posso provar a minha tese. Quer ver?
a) Escova toda manhã:
A fulana acorda as seis da matina pra deixar o cabelo parecido com o da Patrícia de Sabrit. Perde momentos imprescindíveis de rolamento na cama, encoxamento do namorado, pegação, pra encaixar-se no padrão “Alisabel”, que é legal… Burra.
b) Na moda:
Estilo pessoal, pra ela, é o que aparece nos anúncios da Elle do mês. Você vê-la de shortinho, camiseta surrada e cabelo preso? JAMAIS! O que indica uma coisa: ela não vai querer ficar desarrumada nem enquanto estiver transando. É capaz até de fazer pose em busca do melhor ângulo perante o espelho do quarto… Credo.
c) Sorriso incessante:
Ela mora na vila dos Smurfs? Tá fazendo treinamento pra Hebe? Sou antipático com orgulho, só sorrio para quem provoca meu sorriso. Não gostou? Problema seu. Isso se chama autenticidade, meu caro. Coisa que, pra perfeitinha, não existe. Aliás, ela nem sabe o que a palavra significa… Coitada.
d) Bunda dura:
As muito gostosas são muito chatas. Pra manter aquele corpão, comem alface e tomam isotônico (isso quando não enfiam o dedo na garganta pra se livrar das 2 calorias que ingeriram), portanto não vão acompanhá-lo nos pasteizinhos nem na porção de bolinho de arroz do sabadão. Bebida dá barriga e ela tem H-O-R-R-O-R a qualquer carninha saindo da calça de cintura tão baixa que o cós acaba onde começa a pornografia: nada de tomar um bom vinho com você. Cerveja? Esquece! Melhor convidar o Jorjão…
Pois é, ela é um tesão. Mas não curte sexo porque desglamouriza, se veste feito um manequim de vitrine do Iguatemi, acha inadmissível você apalpar a bunda dela em público, nunca toma porre e só sabe contar até quinze, que é até onde chega a seqüência de bíceps e tríceps. Que beleza de mulher. E você reparou naquela bunda? Meu… Deus!!!
Legal mesmo é mulher de verdade. E daí se ela tem celulite? O senso de humor compensa… Pode ter uns quilinhos a mais, mas é uma ótima companheira de bebedeira. Pode até ser meio mal educada quando você larga a cueca no meio da sala, mas adora sexo. Porque celulite, gordurinhas e desorganização têm solução (e, às vezes, nem chegam a ser um problema). Mas ainda não criaram um remédio pra futilidade. Nem pra dela, nem pra sua!

E tem outra …. mulher bonita demais e melancia grande, ninguém come sozinho!


ARNALDO JABOR

quarta-feira, 9 de março de 2011

Zero Grau de Libra

O Sol entrou ontem em Libra. E porque tudo é ritual, porque fé, quando não se tem, se inventa, porque Libra é a regência máxima de Vênus, o afeto, porque Libra é o outro (quando se olha e se vê o outro, e de alguma forma tenta-se entrar em alguma espécie de harmonia com ele), e principalmente porque Deus, se é que existe, anda distraído demais, resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar o ritual e a fé - e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não é só bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal.

Neste zero grau de Libra, queria pedir isso a que chamamos Deus um olho bom sobre o planeta Terra, e especialmente sobre a cidade de São Paulo. Um olho quente sobre o mendigo gelado que acabei de ver sob a marquise do cine Majestic; um olho generoso para a noiva radiosa mais acima. Eu queria hoje o olho bom de Deus derramado sobre as loiras oxigenadas, falsíssimas, o olho cúmplice de Deus sobre as jóias douradas, as cores vibrantes. O olho piedoso de Deus para esses casais que, aos fins de semana, comem pizza com fanta e guaranás pelos restaurantes, e mal se olham quando dizem coisas como “você acha que eu devia ter dado o telefone da Catarina à Eliete?” - e o outro grunhe em resposta.

Deus, põe teu olho amoroso sobre todos os que já tiveram um amor sem nojo nem medo, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem. Derrama teu olho amável sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios, brincando aos berros em playgrounds de cimento. Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou daqueles que, como os funcionários públicos, cruzam-se em corredores sem ao menos se verem - nesses lugares onde um outro ser humano vai-se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa.

Passeia teu olhar fatigado pela cidade suja, Deus, e pousa devagar tua mão na cabeça daquele que, de noite, liga para o CVV. Olha bem pelo rapaz que, absolutamente só, dez vezes repete Moon Over Bourbon Street, na voz de Sting, e chora. Coloca um spot bem brilhante no caminho das garotas performáticas que para pagar o aluguel dão duro como garçonete pelos bares. Olha também pela multidão sob a marquise do Mappin, enquanto cai a chuva de granizo, pelo motorista de táxi que confessa não ter mais esperança alguma. Cuida do pintor que queria pintar, mas gasta seu talento pelas redações, pelas agências publicitárias, e joga tua luz no caminho dos escritores que precisam vender barato seu texto - olha por todos aqueles que queriam ser outra coisa qualquer que não a são, e viver outra vida que não a que vivem.

Não esquece do rapaz viajando de ônibus com seus teclados para fazer show na Capital, deita teu perdão sobre os grupos de terapia e suas elaborações de vida, sobre as moças desempregadas em seus pequenos apartamentos na Bela Vista, sobre os homossexuais tontos de amor não dado, sobre as prostitutas seminuas, sobre os travestis na República do Líbano, sobre os porteiros dos prédios comendo sua comida fria nas ruas dos Jardins. Sobre o descaramento, a sede e a humildade, sobre todos que de alguma forma não deram certo (porque, nesse esquema, é sujo dar-certo), sobre todos os que continuam tentando por razão nenhuma - sobre esses que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões.

Sobre as antas poderosas, ávidas de matar o sonho alheio - não. Derrama sobre elas o seu olhar mais impiedoso, Deus, e afia tua espada. Que no zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça. Mas, para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo o dia sem desistir, envia teu Sol mais luminoso, esse do zero grau de Libra. Sorri, abençoa nossa amorosa miséria atarantada.


Caio Fernando Abreu.

sexta-feira, 4 de março de 2011

DIVAGAÇÕES NA BOCA DE URNA

Política é exercício de poder, poder é o exercício do desprezível. Desprezível é tudo aquilo que não colabora para o enriquecimento do humano, mas para a sua (ainda) maior degradação. Como se fosse possível. Pior é que sempre é.
Ah, a grande náusea desses jeitos errados que os homens inventaram para distrair-se da medonha idéia insuportável de que vão morrer, de que Deus talvez não exista, de que procura-se o amor da mesma forma que Aguirre procurava o Eldorado: inutilmente.
Porque você no fundo sabe tão bem quanto eu que, enquanto a jangada precária gira no redemoinho, invadida pelos macacos enlouquecidos, e você gira sozinho dentro da jangada, ao lado da filha morta com quem daria início à primeira dinastia — mesmo assim: com a mão estendida sobre o rio, você julgará ver refletido no lodo das águas o brilho mentiroso das torres de Eldorado. E há também aquela outra política que os homens exercitam entre si. Uma outra espécie de política ainda menor, ainda mais suja, quando o ego de um tenta sobrepor-se ao ego do outro. Quando o último argumento desse um contra aquele outro é: sou eu que mando aqui.
Ah, a grande náusea por esses pequenos poderosos, que ferem e traem e mentem em nome da manutenção de seu ego imensamente medíocre. Porque sem ferir, nem trair, nem mentir tudo cairia por terra num estalar de dedos. Eu faço assim — clack! — e você desmonta. Eu faço assim — clack! — e você desaparece. Mas você não desmonta nem desaparece: você é que manda, essa ilusão de poder te mantém. Só que você não existe, como não existe nem importa esse mundo onde você se julga senhor, O outro lado, o outro papo, o outro nível — esses, meu caro, você nunca vai saber sequer que existem. Essa a nossa vingança, sem o menor esforço.
Mais nítido, no entanto, que as ruas sujas de cartazes e panfletos, resta um hexagrama das cores do arco-íris suspenso no centro daquele céu ao fundo da rua que vai dar no mar.
É o único rosto vivo em volta, nunca me engano. Chega devagar, pede licença, sorri, pergunta: “E você acha que aqui também é um deserto de almas?” Não preciso nem olhar em volta para dizer que sim, aqui também. E os desertos, você sabe — sabe? — não param nunca de crescer.
Ah, esses vastos desertos em torno das margens do rio lodoso e tão árido que é incapaz de fertilizá-las. Da barca girando no centro do redemoinho, se você estender a mão sobre as águas escuras e erguer bem a cabeça para olhar ao longe, julgará ver as árvores, além do deserto que circunda o rio.
Entre os galhos dessas árvores, macacos tão enlouquecidos quanto aqueles que invadem tua precária jangada, pobre Aguirre, batem-se os humanos perdidos em seus pequenos jogos que supõem grandes. Para sobrepor-se ao ego dos outros, para repetir: sou eu que mando aqui. Para fingir que a morte não existe, e Deus e o amor sim. Pulando de galho em galho, com seus gestos obscenos e gritinhos histéricos, querendo que enlouqueças também. Os dentes arreganhados, os macacos exercitam o poder. Exercitam o desprezível nos escombros da jangada que gira e gira e gira em torno de si mesma, sempre no mesmo ponto inútil, em direção a coisa alguma, enquanto o tempo passa e tudo vira nada.
Do meu apartamento no milésimo andar, bem no centro da ilha de Java, levanto ao máximo o volume do som para que o agudo solo da guitarra mais heavy arrebente todos os tímpanos, inclusive os meus.

Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 2 de março de 2011

Comentário pertinente.

Sabe uma coisa que me deixa profundamente irritada? Aqueles seres humanos que acham que são os encarregados de apontar os defeitos dos outros e o fazem com muita dedicação. São verdadeiros mestres em levantar falso testemunho. Pois é. Esse post é dedicado exclusivamente a essas pessoas irritantes e tem a intenção de dar uns conselhos, E PRINCIPALMENTE, dizer umas verdades.

Pra começar você não pode falar da vida alheia por ai e se importar quando fizerem isso com você. Pau que dá em chico dá em francisco. O que mais tem por ai é aquele tipo de gente que evoluiu de cara de pau pra hipócrita e não passa um dia sem falar dos outros, mas que é só ouvir umas verdades e receber o troco que começa com o falso moralismo. Eu já tô cansada de ouvir pessoas assim falando "se eu não gosto eu nem encosto", "você me odeia e eu rezo por você" e coisas do tipo. TUDO MENTIRA. Aliás, pior do que essas putinhas que falam mal da gente é quem diz com cara de cu que não faz isso e que é contra esse tipo de coisa. Cara, todo mundo tá vendo que você é filho da puta e mesmo assim você vai insistir em querer tirar uma de moralista? E todo mundo vê mesmo, porque a intenção não é comentar em off, é escancarar os defeitos dos outros, mesmo que só ele enxergue esses defeitos. Fala da sua roupa, do seu corte novo de cabelo, das suas fotos no orkut, do seu relacionamento, do seu estilo de vida, até da sua risada fala. E vive assim, só falando, porque fazer melhor ninguém faz, ser melhor ninguém é. E olhe que eu conheço várias pessoas que tentam até se parecer com você, falar como você fala, se vestir como você, andar nos mesmos lugares que você. Essa gentinha pobre de espírito merecia uma dose de semancol. Eu nunca vi ninguém melhor que eu me criticando, por exemplo (muito pelo contrário). E o que você tira disso? INVEJA, claro. Inveja é uma coisa muito sem sentido que faz você querer o mal de alguém só por não conseguir ser o outro ou ter o que ele tem. É você querer culpar uma pessoa que não tem nada a ver com os seus problemas e frustrações. Ninguém tem culpa se você precisa frequentar o salão mais vezes pra ter um cabelo bom, se você é fraca de aparência e a maquiagem não te salva, se o seu ex namorado não te quer mais, se o seu pai não tem dinheiro pra te dar uma vida mansa, se alguém não precisa ficar reclamando sobre como a vida anda difícil porque ela nunca é. Cada um tem aquilo que merece e as experiências que precisa passar pra evoluir e se você não gosta da sua vida reclame com Deus e me esqueça.

Ah, antes que eu me esqueça de dizer: acompanhar as atualizações do orkut, os tweets, o que andam escrevendo no facebook e ainda ficar comentando tudo é muito amor, né? Pare de fingir que se incomoda porque ninguém se dedica tanto quando algo é ruim e estressante. Você faz por prazer e faz com um talento de presidente de fã clube. Só um conselho: se você quiser olhar, olhe. Internet foi feita para compartilhar coisas, você está no seu direito. Mas evite ser tão hipócrita e criticar algo que você pensa ser pra você, quando você faz isso mil vezes. Também não seja tão soberba, não ache que tudo que está na internet é pra você. Porque você não é o tipo de pessoa que precisa ser rebaixada, você já se queima sozinha. :D

Enfim, deu pra desabafar não é? Agora veja só como eu não preciso citar nome nenhum para algumas pessoas vestirem a carapuça. hahaha Beijos.